quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Uma cirurgia, nenhuma UTI e muita tristeza para a família

A lógica Perversa de sucatear os Serviços Públicos

Em busca do Lucro quanto vale a vida








Sandro Thadeu



Dois anos e dez meses de vida. Por omissão do Governo do Estado, a história de vida de uma menina com esta idade chegou ao fim na manhã de ontem, após internação no Hospital Guilherme Álvaro (HGA), em Santos.

O desfecho desse caso poderia ter sido muito diferente se a unidade de terapia intensiva (UTI) pediátrica do complexo de saúde estivesse em funcionamento e com médicos intensivistas. Porém, ela está desativada desde junho para uma reforma, que, segundo funcionários, ainda nem teve início.

Os pais trouxeram a criança de Cananeia, no Vale do Ribeira, ao hospital, tido como referência na região, para fazer uma cirurgia no sistema digestivo e ter o atendimento adequado e necessário em uma eventual complicação.

A realidade foi muito diferente. A menina estava internada em um leito semi-intensivo, após a operação. Apesar de todo o empenho dos profissionais, ela morreu.

Encontrar um leito desse tipo na rede pública da Baixada Santista é raro. Conforme o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (Cnes), existem apenas 15 em toda a região, dos quais dez ficam na Santa Casa de Santos. Os demais, em Cubatão e Guarujá.

“Se tivesse uma UTI disponível no HGA, essa criança teria sido salva. Não tem como não se emocionar e se decepcionar com essa vergonha”, desabafa um dos trabalhadores que entraram em contato com A Tribuna para denunciar o caso.

A principal indignação é a justificativa para o fechamento da UTI pediátrica: uma reforma, cujo tempo de execução seria de três meses. Entretanto, a obra ainda não começou e deverá ser finalizada até a primeira quinzena de novembro.

Desde então, as crianças em estado mais grave ficam em leitos semi-intensivos (adaptados com os aparelhos da UTI) instalados na enfermaria.

Com isso, o que, em um primeiro momento, parece ser a solução para o problema, somente o mascara: o monitoramento dessas crianças, que deveria ser feito por pediatras intensivistas, acaba sendo realizado por pediatras, que não têm a mesma capacitação para atendê-las adequadamente.

Quando há uma emergência, como uma parada cardíaca, os médicos da UTI neonatal são chamados para fazer o atendimento e voltam para o setor abandonado anteriormente.

Os leitos semi-intensivos do HGA estão disponíveis somente para as crianças que estavam internadas lá e sofreram complicações, como ocorreu com a menina de Cananeia que morreu ontem.

Devido à falta de vagas de UTIs pediátricas na Baixada Santista, muitos garotos e garotas são obrigadas a ficar no próprio HGA. “Muitas vezes, tentamos vagas em outros locais, mas nem sempre há. Em casos muito graves, a transferência é inviável, porque existe o risco de morte, como ocorreu com a menina”, afirma um outro trabalhador do hospital.

Terceirização

A caótica situação na unidade semi-intensiva acontece porque muitos pediatras intensivistas pediram exoneração. Conforme os servidores públicos ouvidos por A Tribuna, esse seria o real motivo para o fechamento da UTI pediátrica.

“É difícil arrumar alguém para trabalhar no Estado ganhando menos de R$ 2 mil, monitorando pessoas em estado grave e em uma função de muita responsabilidade. Qualquer erro pode ser fatal”, revela um terceiro funcionário.
Por esse motivo, boa parte da categoria faz a leitura que o Governo do Estado tem a intenção de entregar o gerenciamento da unidade para uma organização social de saúde (OSS), como já ocorre em alguns setores.

“Muitos médicos estão saindo por causa dos baixos salários e a situação fica crítica. Estão preparando o caminho para entregar o gerenciamento de locais para organizações sociais, fato que está acontecendo em todo o Estado”, analisa a diretora regional do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado, Maria Aparecida dos Santos Ortiz.

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